Capítulo 1

Introdução ao processo
orçamentário

Introdução

O processo de elaboração do orçamento faz parte do sistema de planejamento e controle das organizações e envolve toda a organização. A gestão eficiente do processo de orçamento, tarefa típica do profissional da área de Finanças, é imprescindível para que a empresa tenha sucesso na sua elaboração.

Para melhor compreensão dos temas abordados, este módulo está dividido em:

  • Unidade 1 – Funções do orçamento
  • Unidade 2 – Tipos de orçamento
  • Unidade 3 – O ciclo orçamentário
  • Unidade 4 – Modelo integrado

Objetivos

Ao completar este primeiro capítulo do programa, você estará apto a:

  • compreender a finalidade da elaboração do orçamento empresarial;
  • distinguir os diferentes tipos de orçamento e suas particularidades;
  • conhecer as etapas do processo de confecção do orçamento anual da empresa;
  • compreender que o orçamento é integrado e condizente com os sistemas de informação existentes na empresa, podendo ser mais consolidado.
Unidade 1

Funções do orçamento

As funções do orçamento decorrem da necessidade de implementar o que foi definido no planejamento estratégico da organização, considerando que o plano estratégico tem natureza de longo prazo, enquanto o orçamento tem, em geral, o horizonte de 12 meses.

Fique atento(a) para acompanhar e compreender os tópicos de estudo aqui apresentados.

O planejamento estratégico busca aproveitar as oportunidades e evitar riscos.

Funções do orçamento

O orçamento reúne os planos de operação da empresa e pode desempenhar várias funções no desenvolvimento do controle gerencial das organizações. Clique nos ícones abaixo e veja algumas possibilidades de acordo com Frezatti (2017).

O produto final da elaboração do orçamento é o conjunto de demonstrações contábeis orçadas em bases mensais.

Depois que as demonstrações forem produzidas, inicia-se então uma nova etapa, que é a de acompanhamento da execução do orçamento.

O planejamento

Permite que as decisões sejam antecipadas pelas diversas áreas envolvidas, enquanto o controle busca garantir que essas decisões ocorram.

A melhor referência para a análise dos resultados é o valor orçado, que reune os diferentes planos operacionais e financeiros. Esses planos são consolidados em demonstrações contábeis e em metas, após a empresa verificar se eles fazem sentido e se proporcionam resultados satisfatórios.

 

Importância do controle

A atividade de controle diz respeito ao acompanhamento do desempenho efetivo da empresa, em comparação com o seu orçamento planejado. Assim, os resultados obtidos são refletidos nas demonstrações contábeis e podem ser comparados com aqueles produzidos no orçamento.

Uma vez que sejam identificadas as variações relevantes entre os resultados previstos e realizados, a empresa adequa sua visão da realidade e pode decidir por mudanças e/ou providências corretivas.
Além disso, as revisões do orçamento podem apontar ações a serem tomadas pela administração para que novos desvios sejam evitados.

Diagrama de Controle na Organização

Abaixo, um esquema que exemplifica o Diagrama de Controle na Organização.

Fonte: Elaborada pelos autores, adaptada de FREZATTI (2017, p. 87).

Vantagens das decisões antecipadas

Frezatti (2017) explica algumas vantagens em decidir antecipadamente o processo orçamentário. Clique nos números abaixo e confira algumas possibilidades.

Coordenar as atividades da empresa com base no planejamento, para buscar e gerenciar recursos de acordo com as metas.

Identificar novas perspectivas, incorporar novas informações, tornando o processo de planejamento útil e com a perspectiva de revisões.

Buscar comprometer as áreas da empresa, a princípio.

Poder trazer maior transparência para as áreas da empresa, visto que discutiram juntas as etapas do orçamento.

Definir responsabilidades, de acordo com uma perspectiva de accountability em fazer o que deve ser feito e prestar contas sobre isso.

Medir a eficiência por meio de indicadores, não apenas de ordem financeira, mas também operacionais a serem monitorados com frequência.

Cabe destacar que há a necessidade de a alta administração da companhia estar envolvida tanto na aprovação quanto no acompanhamento dos orçamentos (ANTHONY; GOVINDARAJAN, 2002).

Unidade 2

Tipos de orçamento

Esta segunda unidade se dedica a apresentar diversas formas de orçar e esclarecer suas particularidades. Vamos começar compreendendo os tipos de orçamento, de acordo com Padovese e Taranto (2009).

Não perca o foco para compreender os tópicos de estudo sobre os tipos de orçamento!

O orçamento estático

O orçamento estático ou original, também chamado de orçamento anual, é “o mais comum e o mais utilizado pelas organizações” (PADOVEZE; TARANTO, 2009, p. 33).

Assim, os desvios entre o realizado e o previsto são justificados e compreendidos ao longo do exercício. O orçamento estático/anual não será alterado ao longo do ano.

Clique na aba à direita para mais informações sobre orçamentos.

Existem argumentos para que os orçamentos sejam formalizados nas empresas, em termos da sua credibilidade e de outras questões, como a observância ao cronograma do orçamento para decisões, implementações e controle; a sua efetiva comunicação e base lógica.

O orçamento flexível e o orçamento ajustado

O orçamento flexível e o orçamento ajustado surgem para facilitar a comparação entre o resultado realizado e o orçamento, pois as diferenças significativas no nível de atividade (no volume de vendas e/ou de produção) impactam nos custos variáveis. Ainda, considere que um volume de vendas superior ao previsto impactaria em custos variáveis superiores também. Clique no slideshow abaixo para mais informações.

  • De acordo com Horngren, Foster e Datar (2000, p. 154), “[...] o orçamento flexível é ajustado de acordo com mudanças no nível de atividade real”, ou seja, é refeito para o nível de atividade efetivamente constatado.

  • O orçamento ajustado vem das definições do conceito de forecast, segundo Padovese e Taranto (2009): “a somatória dos valores dos períodos já realizados mais os valores dos períodos ainda a serem realizadas, com um total, tratando das variações ocorridas nos meses realizados” (PADOVESE; TARANTO, 2009, p. 34).

  • Algumas organizações trabalham com esse tipo de orçamento, fazendo ajustes no horizonte de curto prazo. Mas repare que o orçamento estático pode ser mantido como referência original, enquanto os orçamentos flexíveis ou ajustados terão outras finalidades, nas quais a assertividade é o elemento mais importante.

  • Cabe observar que a análise das variações entre o resultado efetivo e o orçado tem por objetivo conhecer as razões que levaram ao desvio do que foi planejado, assim como replanejar.
    As demonstrações contábeis do orçamento podem ser refeitas, ainda que as alterações de premissas e de condições gerais não sejam tão grandes.

O orçamento contínuo

O orçamento contínuo é também conhecido pelo seu nome correspondente em inglês, rolling forecast ou rolling budget. Trata-se de um orçamento móvel: tão logo o mês vigente termina, faz-se o orçamento do período de 12 meses à frente. Assim, a empresa estará continuamente elaborando o orçamento.

As recomendações, em termos de revisões mais frequentes dos orçamentos, buscam adaptações mais frequentes às circunstâncias. Hope e Fraser (2003, p. 190) também mencionam o rolling forecast em termos da descentralização dos orçamentos “para garantir que todos tenham acesso à informação que precisam e quando precisam”. Como vantagem desse tipo de orçamento, há autores que destacam que “resulta em um orçamento mais preciso e detalhado” (LUNKES, 2003, p. 90).

Por outro lado, há quem argumente que esse conceito praticamente pode descaracterizar o orçamento tradicional, pois o acompanhamento do orçamento e a análise de variações, de certa maneira, perdem o sentido.

Clique na aba à direita para mais informações.

Assim como em outros tipos de orçamento com foco no curto prazo (em revisões realizadas ao longo do exercício), o orçamento contínuo também tende a gerar novas versões dos demonstrativos de resultados projetados com as mudanças.

O orçamento base zero

O orçamento base zero nasce da crença de que o método habitual de elaboração do orçamento leva em consideração os dados passados e presentes na montagem do orçamento.

A proposta do orçamento base zero é romper com qualquer vínculo histórico ou presente. É fazer um orçamento sem tomar como referência a estrutura vigente da organização. As bases vigentes são questionadas, repensadas, rediscutidas. Novas bases devem ser justificadas.

Assim, evita-se que vícios indesejáveis, em alguma dose, sejam perpetuados pelo orçamento.

Segundo Peter A. Pyhrr (1973), trata-se de um processo funcional de controle e planejamento operacional, segundo o qual cada gestor deve justificar todas as solicitações de dotações orçamentárias em detalhe, para serem avaliadas por análises sistemáticas.

O orçamento base zero acaba se tornando uma filosofia de trabalho, na qual oportunidades de redução de custos são constantemente perseguidas.

INFORMAÇÃO EXTRA

Conforme a literatura salienta, diversas vantagens podem ser obtidas, entre elas a identificação e a eliminação de ineficiências e a diminuição de redundâncias e atividades paralelas. Por outro lado, pode ser necessário a significativa dedicação adicional na elaboração desse modelo, assim como pode haver uma maior resistência a mudanças por parte dos envolvidos no processo (PADOVEZE, 2009).

Segundo Padovese e Taranto (2009, p. 46) até mesmo custos estruturados que são variáveis (relacionados com o nível de atividade) podem ser reanalisados, em termos da discussão das quantidades necessárias destes, como exemplo: “a quantidade KWh no consumo de energia elétrica”.

O orçamento por atividades

O orçamento por atividades é elaborado por meio do método de custeio por absorção, caso venha a ser comparado com as demonstrações emitidas pela contabilidade.

Assim, o orçamento por atividades é preparado segundo o método do custeio por atividades, ou custeio ABC (Activity Based Costing), conforme a empresa apura seu resultado pelo ABC. Clique na aba à direita para mais informações.

No custeio por atividades, antes de levar o custo dos departamentos aos produtos, haverá uma nova etapa intermediária: levá-los às atividades. Nesse método de custeio, considera-se que as atividades são consumidoras de recursos dos departamentos.

Por sua vez, os produtos são consumidores de atividades. Acredita-se que a apropriação dos custos dos recursos aos produtos gere uma informação mais rica e fidedigna.

Clique nos cards abaixo para saber quais as etapas do custeio ABC numa abordagem inicial, de acordo com o professor emérito Eliseu Martins (2010).

Além do orçamento – Beyond Budgeting

Em uma reunião de executivos, a abordagem do Beyond Budgeting foi conceituada como: “um coerente conjunto de processos alternativos que apoiam metas e reconhecimento, um planejamento contínuo [o rolling forecast], uma demanda de recursos, uma coordenação dinâmica e de significativos controles em multiníveis na empresa (HOPE; FRASER, 2003; FREZATTI, 2017; PADOVESE; TARANTO, 2009).

Ekholm e Wallin (2011, p. 145) afirmam que existem significativas evidências da percepção de complementariedade entre o orçamento anual e os orçamentos com revisão de curto prazo. No entanto, na década de 1990, o tradicional orçamento anual recebeu críticas. Clique na aba à direita para saber mais informações sobre o orçamento anual.

Frezatti (2017) também destaca o alerta feito por Hope e Fraser (2003) sobre o orçamento anual poder ser usado de forma inadequada e gerar um possível risco comportamental, no qual os gestores podem adotar condutas disfuncionais (por exemplo, superestimar ou subestimar previsões), ainda que as revisões orçamentárias venham reduzir esse risco e tratar essa questão.
??

VOCÊ SABIA?
Unidade 3

O ciclo orçamentário

Conforme Horngren, Foster e Datar (2000), o ciclo orçamentário contempla:

A seguir, nesta terceira unidade de estudo, acompanhe as informações sobre o ciclo orçamentário.

Continue alerta para melhor compreender o assunto!

O planejamento estratégico define uma missão para a empresa, que é sua própria razão de ser.

Em geral, o planejamento orçamentário se alinha à revisão do plano estratégico, tendo o orçamento anual (o orçamento estático) como elemento de ligação entre o horizonte de curto prazo e o planejamento estratégico.

O período do planejamento anual, em geral, inclui o período remanescente do ano em curso para garantir a consistência entre os pontos de partida do exercício seguinte que está sendo planejado. As revisões posteriores podem ser de ocorrência mensal, trimestral, semestral etc. (FREZATTI, 2017), conforme estudamos.

Planejamento e execução

Um cronograma de atividades aprovado e divulgado auxilia muito a controladoria para organizar o orçamento, indicando as etapas do processo, os responsáveis pela sua execução e os prazos a serem cumpridos. Parâmetros antecedentes à montagem do orçamento precisam ser estabelecidos e formalizados, clique nos ícones abaixo e saiba como. Posteriormente, clique na aba à direita para outras informações.

No início do processo orçamentário propriamente dito ocorre a “definição de premissas” (comportamento de variáveis macroeconômicas e do mercado no qual a empresa atua).

Esse cenário ambiental é formulado e aprovado pela administração da companhia.

Clique nos números abaixo e veja alguns exemplos de variáveis contempladas na escolha de um cenário e sua correspondente finalidade.

Taxa de crescimento do mercado: para auxiliar o orçamento de volume de vendas.

Taxa de crescimento do PIB / renda per capta.

Taxa de inflação: auxiliar o orçamento das despesas, ou até mesmo do preço de venda.

Taxa de câmbio: necessária caso a empresa exporte, importe, tenha endividamento em moeda estrangeira, ou elabore demonstrações contábeis em dólar.

Taxa de juros: caso a empresa possua endividamento pós-fixado ou sobras de caixa.

Percentual de variação de salários por acordos coletivos.

O controle

O controle realimenta o sistema de planejamento, podendo ser mais flexível ou rígido, complexo ou simplificado, centralizado ou participativo (FREZATTI, 2017). Clique nas imagens abaixo para mais informações.

Flexibilidade frente às mudanças do ambiente

Ao longo do curso do processo, eventualmente, o ambiente no qual a empresa opera pode ter mudanças significativas na economia (troca de moeda, redução da inflação, controle do câmbio etc.).

Um exemplo dessas mudanças macroeconômicas impactantes encontrado na literatura é o Plano Real, plano econômico adotado pelo governo brasileiro, em 1994, para debelar a inflação.

O orçamento é integrado

As primeiras etapas relacionadas aos elementos da operação da empresa formam um conjunto denominado orçamento operacional. Compreende o orçamento de vendas, produção, custos e despesas.

Já o orçamento das atividades de financiamento e investimento é conhecido como orçamento financeiro. Cabe lembrar que o orçamento é interativo. Ou seja, se, por exemplo, houver a alteração em alguma etapa, todas as etapas posteriores àquela alterada terão que ser refeitas.

Etapas de elaboração do orçamento

Confira abaixo a figura que ilustra as etapas de elaboração do orçamento.

Fonte: Elaborada pelos autores, 2018.

Nesta unidade, discutimos as etapas de elaboração do orçamento e suas conexões, trazendo uma noção de seu encadeamento e pré-requisitos. Já sabemos que cabe ao orçamento a tarefa de implementar os programas e as ações estratégicas planejadas pela empresa, assim como mantê-las atualizadas e condizentes com a realidade, tendo em vista que muitos setores de atividade tendem a precisar de certa flexibilidade (replanejamentos) frente às mudanças do ambiente.

Os tipos de orçamento apresentados buscam propiciar o alinhamento do orçamento em andamento com os objetivos anuais e com o planejamento estratégico da empresa.

Unidade 4

Modelo integrado

O modelo de orçamento é integrado na medida em que reproduz, de forma encadeada, as diversas inter-relações entre as variáveis existentes no mundo real (entre vendas, produção, custos, resultado, direitos e obrigações etc.).

Nesta quarta e última unidade, estudaremos o modelo integrado, continue atento(a)!

Aqui, entendemos o “modelo de orçamento” como um conjunto de planilhas eletrônicas que produzirão demonstrações contábeis orçada em bases mensais.

Geralmente o orçamento é preparado, seja por um conjunto de planilhas eletrônicas ou por softwares difundidos no mercado, sendo importante que essas ferramentas sejam amigáveis.

Aplicam-se os mesmos princípios de consistência, credibilidade e rapidez no trato das informações planejadas. Quanto mais integrados forem os sistemas (e mesmas bases de dados), mais úteis se tornam e trazem mais qualidade das informações, inclusive quanto à redução de erros (FREZATTI, 2017).

Nos sistemas, busca-se a integridade ao longo dos processos de comunicação e compartilhamento de informações, assegurando: a precisão; a qualidade do seu gerenciamento; o controle das entradas de informações, do processamento e das saídas das informações (relatórios); e a geração das demonstrações de forma consistente e automática, evitando redundâncias indesejáveis de dados.

Cabe lembrar que o orçamento se distingue da operação contábil uma vez que o orçamento tem maior liberdade para avaliar a necessidade de projetar determinada transação. Além disso, suas informações são mais consolidadas.

A contabilidade tem funções mais amplas e complexas, mas o orçamento deverá seguir os princípios contábeis, fazendo uso da mesma linguagem, guardadas as suas dimensões e propósitos mais específicos.

INFORMAÇÃO EXTRA

Encerramento

Neste capítulo, apresentamos as funções do orçamento e entendemos as diferentes formas praticadas de orçar (os ‘tipos de orçamento’): o tradicional orçamento anual, o orçamento estático e os orçamentos: ajustável, flexível, contínuo, base zero e baseado em atividades.

Além disso, vimos o movimento Beyond Budgeting, que nos alerta sobre questionamentos indesejáveis que venham a surgir. Em seguida, realçamos as particularidades e as finalidades de cada tipo de orçamento.

Também tivemos uma visão global das etapas de elaboração do orçamento em si, do seu caráter integrado e de sua relação com o planejamento estratégico da organização. Finalmente, sugerimos alguns cuidados a serem observados quanto à montagem do orçamento.

Palavra do Professor

Voltar ao topo