Capítulo 1

FUNDAMENTOS DA CONTROLADORIA ESTRATÉGICA

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO DO CAPÍTULO

OBJETIVOS DO CAPÍTULO

UNIDADE 1

EVOLUÇÃO HISTÓRICA

UNIDADE 2

VISÃO GERAL DA CONTROLADORIA

UNIDADE 3

O PAPEL DO controller

UNIDADE 4

A CONTROLADORIA VOLTADA PARA A ESTRATÉGIA EMPRESARIAL

INTRODUÇÃO DO CAPÍTULO

A compreensão da evolução histórica e dos principais conceitos da controladoria é fundamental para entender como essa área pode impactar positivamente o resultado das empresas. A partir da definição dos pilares centrais da controladoria estratégica e de sua importância, podemos perceber o que vem motivando cada vez mais as empresas a desenvolverem essa área, bem como sua missão e seu elemento condutor, ou seja, a criação de valor por meio da otimização de resultados empresariais de maneira ativa.

A partir das indagações acerca do conceito de controladoria e do papel do controller para o sucesso da estratégia empresarial, será apresentado como uma área voltada para a análise de dados de informações econômico-financeiras pode ser fundamental para modelos de negócios, otimização de recursos e aumento de eficiência operacional, além de proporcionar maior alinhamento das estratégias adotadas pela gerência com os valores da empresa.

A seguir, serão compartilhados os conceitos fundamentais para entender a controladoria estratégica como uma parceira dos negócios capaz de gerar valor para os acionistas e maior alinhamento com as reais demandas da sociedade em um mundo globalizado e complexo.

Objetivos do capítulo

Ao final deste capítulo, será possível compreender:

  • o que é a controladoria estratégica e por que ela representa uma evolução da controladoria tradicional;
  • quais teorias fundamentam a controladoria e seus principais conceitos;
  • qual a importância da função do controller para as empresas;
  • quais as estruturas da controladoria e como as empresas podem beneficiar-se da sua aplicação;

Para melhor compreensão das questões que envolvem os objetivos apresentados, este capítulo está dividido em:

Unidade 1 – Evolução histórica

Unidade 2 – Visão geral da controladoria

Unidade 3 – O papel do controller

Unidade 4 – A controladoria voltada para a estratégia empresarial

Unidade 1

EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Para compreendermos como a controladoria se relaciona com o ambiente empresarial e como se tornou peça fundamental para o sucesso das empresas, é importante conhecer não somente o contexto imediato em que esse fenômeno ocorre, mas também analisar a história e os fatores que contribuíram para o seu desenvolvimento no Brasil e no mundo, até se tornar a controladoria estratégica que conhecemos hoje.

Muitos autores afirmam que o surgimento da controladoria tem como origem a necessidade aparente de controle por parte das organizações norte-americanas, de suas filiais e subsidiárias durante o início do século XX. Durante a Revolução Industrial, foram originados, devido aos processos de fusões e aquisições, grandes conglomerados caracterizados por terem, majoritariamente, estrutura verticalizada em plena expansão, ordenada sob a forma de departamentos e divisões (MARTINS, 2005).

Com o surgimento dessas estruturas tão complexas, nasceu, por parte dos acionistas e gestores, a necessidade de uma área de controle central nas organizações que pudesse guiar a atividade empresarial, o que se intensificou em meados do século XX, quando as empresas norte-americanas iniciaram sua globalização física, com o surgimento de filiais pelo mundo.

Outro fator motivador do surgimento da área de controladoria foi o aumento no número de fontes de capitais para financiamento, principalmente a partir da quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, o que causou grande abalo na confiança dos usuários de informações contábeis, fazendo com que as empresas sentissem a necessidade do desenvolvimento de novos mecanismos de acompanhamento de gestão empresarial.

O surgimento da controladoria no Brasil denota da década de 60, quando as empresas norte-americanas vieram se instalar no país e com a chegada dos seus controllers (como são chamados os profissionais da área de controladoria) para ensinar aos contadores brasileiros a nova forma de gestão. Economicamente, o país passava por um momento transformacional em sua política, o que fez com que os primeiros cinco anos da década fossem marcados por um período de crise que foi revertido por um movimento de forte recuperação econômica, o qual teve início no último triênio dos anos 60, devido a importantes mudanças institucionais no país (BRENER, 1996; FIGUEIREDO; CAGGIANO, 2008; RICARDINO FILHO, 2005; SCHMIDT, 2002; SIQUEIRA; SOLTELINHO, 2001).

Nas últimas décadas, o Brasil passou por diversas transformações sociais e econômicas, as quais têm como parte de sua origem os impactos das principais tendências globais e tecnológicas, o que fez com que as fronteiras deixassem de existir. Esse avanço possibilitou às empresas brasileiras um crescimento sem precedentes, quando comparado com o crescimento no passado, mas também trouxe o aumento da competitividade. Hoje, empresas brasileiras precisam competir não só com suas concorrentes nacionais, mas também com as gigantes mundiais, líderes em seus segmentos, que têm áreas de controladoria bem estabelecidas e bastante avançadas em suas práticas.

Todo esse arcabouço vem contribuindo para a disseminação da área de controladoria no Brasil, área essa que vem crescendo e se tornando relevante em diferentes setores

Fonte: Elaborada pelo autor.

Sendo assim, podemos concluir que, devido à globalização física das empresas e ao aperfeiçoamento tecnológico que proporcionou maior eficiência na produtividade e aumento da concorrência em preço e qualidade de serviços, além do aumento das fontes de capital, a controladoria se faz necessária para a sobrevivência no novo cenário mundial.

Todos esses desafios fazem surgir novos modelos de gerenciamento, com foco na descentralização e na delegação de autoridade. Esses novos modelos de gestão têm como consequência para as entidades empresariais o aumento da eficácia, o que é fundamental, já que a empresa precisa ser eficaz e produzir com eficiência para se tornar competitiva.

Fonte: Elaborada pelo autor.

Mas o que é eficácia empresarial?

A palavra “eficácia” pode ser definida como o grau segundo o qual as organizações atingem suas missões, suas metas e seus objetivos, dentro das restrições de recursos limitados (GIBSON, 1988).

A eficácia surge da confrontação entre os resultados planejados e os resultados alcançados. Uma empresa eficaz traz benefícios para seus acionistas, colaboradores e toda a sociedade, tendo como requisitos para o atingimento da eficácia características como produtividade, eficiência, adaptabilidade do processo decisório, desenvolvimento constante, além da preocupação com a satisfação de todos os stakeholders.

NA PRÁTICA

Para entender com clareza a motivação das empresas na implementação da controladoria estratégia, vale destacar algumas de suas vantagens.

  • o diagnóstico de possíveis falhas dentro dos processos organizacionais, com o objetivo de reduzir custos e aumentar a produtividade;
  • maior clareza na identificação dos indicadores de desempenho do negócio, garantindo ganhos de competitividade e maiores chances de atingir os objetivos planejados;
  • o reconhecimento e maior aproveitamento das oportunidades dentro do mercado, aproveitando-as de maneira eficiente;
  • a otimização dos processos internos, aumentando a assertividade na tomada de decisão;
  • mitigação de riscos, aumentando a capacidade de previsão de cenários futuros.

Unidade 2

VISÃO GERAL DA CONTROLADORIA

Antes mesmo da partida de um navio, o comandante deve possuir ao seu alcance um plano com todas as informações necessárias para a navegação, sendo a principal informação o destino da viagem. Com base no destino, que é tido como o grande objetivo a ser alcançado, tornam-se necessárias outras informações ou subplanos.

Dessa maneira, a rota é traçada, definindo quais os recursos fundamentais para manter o navio em movimento, o tempo estimado de viagem, quem serão os tripulantes responsáveis e sua função no navio e a quantidade máxima de passageiros. Além disso, o comandante precisa utilizar uma série de instrumentos e habilidades durante o percurso para se manter em sua rota em alto-mar, e pode ser que imprevistos façam com que ele precise realizar pequenos desvios em sua rota. Mesmo com todo o preparo necessário e os procedimentos prévios realizados, não há nenhuma garantia de que a rota será percorrida conforme foi planejada; apenas existe a certeza de que o comandante usará todos as informações e os instrumentos necessários para chegar ao seu destino.

O exemplo anterior nos ajuda a entender dois conceitos importantes sobre a controladoria estratégica aplicada. O primeiro está relacionado à necessidade de planejamento e monitoramento para todas as empresas, independentemente do setor de atuação ou do tamanho.

Sem planejamento, é como se a empresa estivesse de olhos vendados, sem rumo. Ao iniciar uma empresa, ou dar continuidade a um projeto dentro de uma organização, é preciso ter clareza de quais são os objetivos e quais as tarefas necessárias para alcançá-los.

A segunda lição que podemos extrair desse exemplo diz respeito à importância da informação e de ferramentas de mensuração e controle. Orleans Martins (2005) afirma que a controladoria tem a finalidade de garantir informações adequadas ao processo decisório dos gestores, colaborando, dessa forma, para a busca da eficácia da empresa e de suas subdivisões, levando em conta o aspecto econômico.

A falta de informações confiáveis e relevantes para a tomada de decisão impacta diretamente a sustentabilidade das empresas, impedindo que estas cumpram a sua função de geração de valor ao longo dos anos. As mudanças tecnológicas e econômicas constantes têm impacto direto no processo decisório gerencial, tornando o ambiente de negócios cada vez mais complexo, competitivo e dinâmico. Essas transformações acabam exigindo das empresas constante adaptação e controle de custos, além da capacidade de prever possíveis cenários e se preparar com antecedência, buscando mitigar riscos que podem impactar o resultado. É nesse ambiente que a controladoria estratégica se faz necessária, fornecendo o conjunto de informações, sistemas e modelos gerenciais capazes de otimizar o desempenho da empresa por meio da melhoria na capacidade decisória gerencial.

Antes de conhecer a controladoria estratégica, é preciso compreender os conceitos e processos que formam a controladoria tradicional, a qual ainda é bastante utilizada pelas empresas e, muitas vezes, é considerada uma ramificação da administração e contabilidade, com o objetivo de controlar, medir e fiscalizar a atividade empresarial.

No decorrer deste curso, vamos perceber que a controladoria estratégica se trata de uma visão mais ampla desse conceito, abordando, além da contabilidade e da administração, as áreas de planejamento estratégico, deixando de ser, apenas, uma ferramenta focada exclusivamente no resultado econômico. Ou seja, para compreender a controladoria estratégica, é preciso, antes, definir com clareza estas duas palavras: Controladoria e Estratégia.

Controladoria

Por mais que tenha havido evolução nas últimas décadas, encontrar uma definição para controladoria entre os diversos autores nacionais e internacionais que tratam do tema não é tarefa fácil, pois cada autor pode seguir uma linha de estudos específica, criando conceitos e definições únicas. A controladoria pode ser definida como os conjuntos de práticas, doutrinas e conhecimentos relativos à gestão financeira e econômica das empresas.

Segundo Mosimann (1993), a controladoria pode ser conceituada como o conjunto de princípios, procedimentos e métodos oriundos das ciências da administração, da economia, da psicologia, da estatística e, principalmente, da contabilidade, ocupando-se da gestão econômica das empresas com o fim de orientá-las para a eficácia.

Sendo assim, para o autor, a controladoria consiste em um corpo de doutrinas e conhecimentos relativos à gestão econômica. Dessa forma, podemos ver a controladoria sob duas óticas:

I. como órgão administrativo com uma missão, funções e princípios definidos no modelo de gestão e sistema da empresa;

II. como uma área do conhecimento humano com fundamentos, conceitos, princípios e métodos oriundos de outras ciências.

Para outros autores, a controladoria pode ser definida como “a unidade administrativa responsável pela utilização de todo o conjunto da Ciência Contábil dentro da organização. Como a Ciência Contábil é a ciência do controle em todos os aspectos temporais - passado, presente e futuro - e como a Ciência Social exige a comunicação de informação, no caso a econômica, à Controladoria cabe a responsabilidade de implantar, desenvolver, aplicar e coordenar todo o ferramental da Ciência Contábil dentro da organização, nas suas mais diversas necessidades” (PADOVEZE, 2003). Também, a controladoria pode ser entendida “como o departamento responsável pelo projeto, elaboração, implementação e manutenção do sistema integrado de informações operacionais, financeiras e contábeis de determinada entidade, sendo considerada hoje como o atual estágio evolutivo da Contabilidade” (OLIVEIRA, 2002).

Tome Nota

Com essas definições, fica claro que os autores consideram o estabelecimento da controladoria sob dois aspectos, os quais se encontram apresentados a seguir.

I. Como uma unidade administrativa dentro da empresa.

O papel da controladoria como órgão administrativo é zelar pelo bom desempenho da empresa, desenvolver sistemas e metodologias que proponham modelos gerenciais que otimizem o desempenho das empresas por meio de seu sistema de gestão, fornecendo informações relevantes ao processo decisório.

II. Como um ramo do conhecimento.

A controladoria é conceituada como um conjunto de princípios oriundos de outras ciências, tais como a administração, economia, contabilidade, direito, estatística, matemática, psicologia e sociologia.

Estratégia

Podemos afirmar que estratégia “implica na capacidade de raciocínio lógico, sendo necessária a habilidade de previsão das possíveis reações às ações empreendidas” (SCHMIDT, 2002, p. 39), e compreende “a escolha dos segmentos de mercado e clientes que as unidades de negócio pretendem servir, identificando os processos internos críticos nos quais a unidade deve atingir a excelência para concretizar suas propostas de valor aos clientes dos segmentos-alvo, e selecionando as capacidades individuais e organizacionais necessárias para atingir os objetivos internos, dos clientes e financeiros” (KAPLAN, 1997, p. 38).

Quando falamos em estratégia, é importante esclarecer que existem diferentes níveis, os quais podem variar de acordo com sua abrangência e seu desdobramento. Diante de cada um desses níveis, teremos uma maneira diferente de atuação da controladoria.

Por essas razões, a separação entre a função contábil e a função financeira foi o caminho lógico a ser tomado e, nesse período, ocorreram o nascimento e o desenvolvimento de uma função diferenciada de controladoria, ou seja, a controladoria estratégica.

A controladoria estratégica tem como função auxiliar a alta gestão no planejamento e na implementação da estratégia empresarial, mantendo o foco no próprio negócio, sem manter a visão do todo. Em outras palavras, podemos afirmar que a controladoria estratégica é uma atividade integrada ao processo decisório das organizações, guiando a empresa para uma visão de longo prazo, utilizando-se do profundo conhecimento do negócio e do cenário em que ele está inserido..

O objetivo da controladoria é proporcionar clareza na medição e na avaliação dos resultados da empresa, a fim de que seja possível acompanhar a evolução em diferentes períodos, aferindo se a empresa está mais próxima ou não dos objetivos definidos nas etapas de planejamento e orçamento. Além disso, essa área permite a comparação com outras empresas do mesmo setor, o que facilita a análise da gestão da real situação da empresa frente aos seus concorrentes e como seu resultado poderia ser melhor, o que gera subsídios para correções nas atividades.

A controladoria não pode, apenas, ser vista como um método que ensina “como fazer”, e sim como ramo do conhecimento responsável por estabelecer toda a base conceitual e como um órgão administrativo que responde pela propagação de conhecimento, modelo e implantação de Sistemas de Informações e Modelo de Gestão Econômica que possam sanar as necessidades de informações dos gestores, a fim de contribuir com os estes durante o processo de gestão, auxiliando a tomada de decisões corretas e eficientes. É importante ressaltar que cada gestor é responsável por seus resultados, sendo a controladoria responsável pela coordenação, organização e fiscalização da área econômica.

Unidade 3

O PAPEL DO controller

O controller, como é chamado pelo termo em inglês, ou gerente de controladoria, é o profissional responsável pelo planejamento, aferimento e controle das atividades de curto, médio e longo prazo realizadas em áreas como planejamento estratégico, controladoria e finanças.

O principal objetivo de um controller é trazer a melhoria de resultados para a empresa por meio do planejamento e da gestão fiscal, financeira e orçamentária. Isso exige do profissional um perfil detalhista e organizado na coleta e organização de dados, uma vez que é preciso ser capaz de gerar informações inteligíveis. Afinal, esses dados serão utilizados por outros setores da organização, setores esses que, muitas vezes, não têm domínio dos conhecimentos e jargões contábeis e financeiros.

As atribuições associadas às funções da controladoria não estão claramente definidas, pois diferentes organizações possuem diferentes funções inerentes ao controller. Sendo assim, as atribuições de trabalho ainda são, em grande parte, compostas pelo planejamento, pelo orçamento e pela elaboração de relatórios internos e externos. Dentre as funções básicas da controladoria, podemos citar as estabelecidas pelo Financial Executives Institute (FEI), que é uma instituição internacional voltada para executivos da área de finanças. O FEI prevê que o controller deve, fundamentalmente, fornecer informações, principalmente de natureza financeira, sobre todas as atividades da empresa. Essas informações auxiliarão a gestão, seus acionistas e outros usuários na tomada de decisões econômicas educadas.

Dessa maneira, podemos dizer que o controller tem como funções básicas extrair, coletar e analisar informações relevantes e fidedignas sobre o negócio, gerando relatórios que servirão de apoio para a tomada de decisão de gestores de diferentes áreas, assim como da diretoria e do diretor financeiro (ou Chief Financial Office - CFO) da organização. Além disso, o controller precisa ser capaz de diagnosticar possíveis falhas e ineficiências nas atividades executadas que devem ser melhoradas, contribuindo, assim, para a melhoria de performance e, consequentemente, de lucratividade da empresa. O controller também tem papel relevante no monitoramento e na criação de um plano de gestão de riscos que vai guiar as decisões da empresa, antecipando possíveis situações inesperadas e mitigando impactos que podem resultar em prejuízos para a organização. Também está sob a responsabilidade do gerente de controladoria coordenar as demais áreas para a execução das rotinas financeiras necessárias, realizar a análise de desempenho, contabilidade, gestão de liquidez de ativos, finanças, planejamento fiscal, plano de governança corporativa, análise de viabilidade de projetos e, é claro, a redução de custos e melhorias contínuas na produtividade.

NA PRÁTICA

A posição hierárquica do controller pode mudar de uma empresa para outra, mas, geralmente, esse profissional se reporta ao CFO, ou diretor financeiro, sendo responsável pela parte orçamentária, contábil e fiscal, seguindo orientações da alta gestão. Apesar de não fazer parte do topo hierárquico das empresas, o controller, geralmente, tem autonomia e capacidades suficientes para analisar, planejar e sugerir estratégias para diferentes atividades da companhia, tais como:

I. projeção de custos e despesas;

II. análise de viabilidade de projetos;

III. cálculo sobre retorno esperado;

IV. projeções de faturamentos nos próximos períodos.

Voltando ao nosso exemplo do navio, se o controller fosse um tripulante, ele não seria o capitão do navio, mas, sim, o navegador, que tem como função cuidar dos mapas, conhecer todos os instrumentos e as condições de navegabilidade, bem como entender a operação de todo o navio e sua tripulação. Sendo assim, a principal responsabilidade seria manter o capitão informado sobre a distância percorrida, a velocidade, a localização, a previsão do tempo, as melhores rotas e se o navio tem condição de chegar ao seu destino com segurança.

Nesse exemplo fica claro o papel do controller como profissional essencial para as organizações, tendo como função orientar o principal executivo da empresa com relatórios capazes de mensurar com precisão o posicionamento atual das atividades e o direcionamento a que elas estão conduzindo o negócio. Esses relatórios têm como base diversas fontes, como informações contábeis, análises setoriais, análise de riscos e oportunidades, além da análise da viabilidade de projetos de investimentos, capazes de determinar quais projetos devem ser executados ou não.

Para que o controller profissional tenha um trabalho eficaz, é preciso que ele que tenha amplo conhecimento do ramo de negócios em que a empresa está situada, bem como domínio das informações financeiras e operacionais da organização.

No geral, esse profissional deve ter visão ampla, sendo considerado um generalista, por interagir com diversas áreas.

A seguir, são apresentados os requisitos necessários para o desempenho da função de controller.

Mesmo sendo muito requisitado pelas grandes organizações, o cargo ainda não é tão comum em empresas de pequeno e médio porte, embora os motivos não sejam tão precisos. Podemos citar fatores como a falta de planejamento estratégico e verba para a contratação.

Os incentivos para a contratação de um profissional, porém, são frutos do próprio sucesso do negócio, tornando-se cada vez mais comum em negócios bem-sucedidos.

Se a empresa tem um bom resultado, ela passa uma imagem positiva ao mercado, o que a torna mais atrativa, inclusive, para potenciais investidores.

Unidade 4

A CONTROLADORIA VOLTADA PARA
A ESTRATÉGIA EMPRESARIAL

A controladoria está diretamente relacionada ao ambiente estratégico da organização, o qual, por meio das informações geradas pelas demais áreas, abastece o responsável pelo planejamento estratégico da companhia com informações financeiras e não financeiras, apoiando, assim, o processo de análise, planejamento, implementação e controle da estratégia organizacional.

Acerca da estratégia empresarial, Mintzberg (2003) afirma que ela se trata da maneira de pensar no futuro, integrada no processo decisório, com base em um procedimento formalizado e articulador de resultados. Sendo assim, a estratégia empresarial pode ser definida como o conjunto de ações que define fatores como a especialidade de mercado, os caminhos que a empresa seguirá e como vai executar.

A controladoria voltada para a estratégia empresarial cria bases para a implementação de planejamentos, sendo o controller o responsável por agrupar dados das diferentes áreas da empresa, buscando, também, informações no ambiente externo para criar projeções, controlar ações e relatar para a gestão os pontos fortes e fracos da organização, evidenciando possíveis ameaças e oportunidades. Dessa forma, o controller passará para o corpo de gestores informações que poderão resultar numa maior confiança e segurança na hora de planejar. Esse alinhamento entre o controlador e a estrutura da organização se potencializa ainda mais com uma estratégia bem-definida e alinhada à declaração da missão, da visão e dos valores, o que se torna uma poderosa ferramenta para inspirar e engajar a equipe, com a prática de princípios que norteiam o propósito da empresa, ou seja, o que a empresa se propõe a fazer e para quem.

Vamos entender os conceitos de missão, visão e valores, pela ótica empresarial.

Podemos compreender a missão de uma empresa como a declaração concisa do propósito fundamental da organização, o motivo pelo qual ela foi criada; em outras palavras, a finalidade de sua existência. Em uma analogia, podemos comparar a missão da empresa ao seu DNA, o qual dificilmente é modificado com o passar dos anos.

A seguir, são apresentadas perguntas que podem facilitar a elaboração da missão.

1 - O que a empresa deve fazer?

2 - Para quem ela faz?

3 - Como deve fazer?

4 - Onde fazer?

5 - Com qual finalidade?

Visão

A visão da empresa representa a posição que almejamos ocupar em um cenário futuro para o negócio, ou seja, um objetivo ou uma meta. Geralmente, a visão representa uma visão ambiciosa de como a empresa se vê no futuro e é criada para um período determinado, podendo mudar ao longo do tempo.

A seguir, são apresentadas perguntas que podem facilitar a elaboração da visão.

1 - Qual é o nosso objetivo?

2 - O que queremos realizar?

3 - O que estamos construindo?

4 - Para onde os recursos investidos estão levando a empresa?

Valores

Valores são princípios e crenças que servem de guia para atitudes, comportamentos e decisões de todos os stakeholders na busca dos seus objetivos, a fim de que a empresa exerça sua missão e busque alcançar sua visão. Valores são as limitações éticas das ações da organização.

Geralmente, os valores são as qualidades e as bandeiras que a empresa defende.

Ter uma estratégia bem definida é um grande diferencial competitivo, porém é importante ter clareza de que, em uma organização, podem existir diferentes tipos de estratégia. Esses tipos de estratégia são definidos em níveis, fazendo com que a controladoria estabeleça formas de atuação diferentes para cada um deles, de acordo com suas especificidades e necessidades.

Dentre os diferentes tipos de estratégia, traremos, a seguir, a forma como a controladoria se relaciona com cada um deles, sendo capaz, desse modo, de melhorar a eficácia da empresa.

Estratégia corporativa

Tem como objetivo principal conduzir a alocação de recursos e aquisições, corte de gastos e decisão de investimentos. É responsável pelas decisões de negócios tomadas pela empresa como um todo, assim como sua administração e sua estruturação. A controladoria estratégica se relaciona com o nível corporativo por meio do controle dos centros de custos, investimentos, lucros e análise de estratégias específicas para as movimentações da organização, regionais ou globais.

Estratégia funcional

Precisa estar interligada por objetivos em comum, tendo como finalidade a criação de ações específicas para cada área da organização, buscando as melhores estratégias competitivas. Nesse caso, a controladoria estratégica se relaciona acompanhando e analisando a estratégia de lançamento de serviços e produtos, tal qual a análise de seus ciclos de vida. Por fim, a estratégia funcional é responsável pelo gerenciamento de riscos da empresa e do plano de expansão e crescimento.

Estratégia competitiva

Tem como principal função identificar, desenvolver e manter as vantagens do negócio frente aos seus concorrentes, sendo capaz de assegurar, muitas vezes, a diferenciação e sobrevivência do negócio. A questão central tratada pela estratégia competitiva é saber o que a empresa pode fazer, ou já faz, e precisa manter para que desenvolva uma vantagem competitiva no setor em que atua. Sendo assim, a controladoria opera por meio da análise extensa de mercado, visando acompanhar a concorrência e identificar, em suas ações, informações relevantes que possam contribuir para que a empresa se sobressaia.

Considerada uma ferramenta clássica da administração, a análise SWOT, ou análise FOFA, como é conhecida no Brasil, fornece uma análise da empresa, sob diversas perspectivas, de forma simples, objetiva e propositiva. SWOT é a sigla em inglês para:

  • Forças (Strengths);
  • Fraquezas (Weakness);
  • Oportunidades (Opportunities);
  • Ameaças (Threats).

Apesar de não existir um consenso sobre os autores, acredita-se que essa ferramenta tenha sido desenvolvida nos anos 60 pelo professor da Universidade de Stanford, Albert Humphrey, e posteriormente batizada com o nome matriz SWOT pelos professores de Harvard, Kenneth Andrews e Roland Christensen. A matriz SWOT tem como finalidade aprimorar o planejamento estratégico das empresas, sendo capaz de fornecer informações preciosas para a estratégia empresarial. Para isso, ela realiza a análise dos ambientes externos e internos da organização, sendo a avaliação de forças e fraquezas referente ao ambiente interno; e a de ameaças e oportunidades, ao ambiente externo.

A elaboração de estratégias claras e objetivas permite às empresas determinar padrões de controle que servirão como indicadores para o seu sucesso. Para as empresas, controlar significa monitorar, avaliar e melhorar as diversas atividades que ocorrem dentro de uma organização. De acordo com Certo (1993), controlar é fazer que algo aconteça conforme o planejado, sendo o controle estratégico um tipo especial de controle organizacional que se concentra em monitorar e avaliar a estratégia, garantindo sua funcionalidade de maneira adequada.

Sendo assim, podemos distribuir o processo de controle organizacional em três etapas, as quais estão apresentadas na sequência.

1) Medir o desempenho organizacional.

São utilizados ferramentas e métodos qualitativos e quantitativos para medir o desempenho organizacional em dado momento.

2) Comparar o desempenho organizacional com metas e padrões.

Após coletadas as informações relativas ao desempenho organizacional, elas são comparadas com padrões organizacionais que estão intimamente ligados com os objetivos da empresa. Tais padrões são criados para que a gestão possa refletir sobre os objetivos da empresa e se os níveis de desempenho alcançados até então são aceitáveis.

3) Tomar a atitude corretiva necessária.

Uma vez que os comparativos foram estabelecidos e que os dados de performance são conhecidos, cabe à alta gestão tomar atitudes corretivas que podem se transformar em mudanças de rota ou até mesmo no estabelecimento de novos desafios, a partir da implementação de novos objetivos e padrões, caso os objetivos e padrões tenham sido fixados em um patamar muito baixo.

RESUMO

Em um cenário dinâmico que envolve incertezas, a controladoria estratégica surge como uma importante parceira do desenvolvimento organizacional, sendo capaz de fornecer informações relevantes e que vão apoiar a alta gestão na tomada de decisão. A controladoria tradicional tem sua origem na necessidade de controle, por parte das organizações norte-americanas, de suas filiais e subsidiárias durante o início do século XX.

Durante a Revolução Industrial, foram originados, devido a processos de fusões e aquisições, grandes conglomerados, caracterizados por terem, majoritariamente, estrutura verticalizada e complexa, o que fez com que acionistas e gestores precisassem de uma área de controle central que pudesse guiar a atividade empresarial.

Com sua chegada ao Brasil, na década de 1960, e com a expansão física das organizações norte-americanas, a controladoria foi ganhando cada vez mais espaço nas organizações, tornando indispensável a figura do controller, que é o profissional responsável pelo planejamento, aferimento e controle das atividades de curto, médio e longo prazo, realizadas em áreas como planejamento estratégico, controladoria e finanças. Com a evolução das práticas de gestão, surge a controladoria voltada para a estratégia empresarial, criando bases para a implementação de planejamentos e objetivos de longo prazo, sendo o controller responsável por agrupar dados das diferentes áreas da empresa, buscando, também, informações no ambiente externo para criar projeções, controlar ações e relatar para a gestão os pontos fortes e fracos da organização, evidenciando suas possíveis ameaças e oportunidades. Dessa forma, o controller passará para o corpo de gestores informações que poderão resultar em maior confiança e segurança na hora de planejar estratégias vencedoras para a empresa.