Capítulo 3

ANÁLISE DO DESEMPENHO ECONÔMICO

SUMÁRIO

UNIDADE 1

ÍNDICES DE RENTABILIDADE

UNIDADE 2

ÍNDICES DE LUCRATIVIDADE E GIRO

UNIDADE 3

VALOR ECONÔMICO ADICIONADO – EVA

UNIDADE 4

ANÁLISE DO DESEMPENHO ECONÔMICO NA PRÁTICA

RESUMO

INTRODUÇÃO DO CAPÍTULO

A análise do desempenho econômico busca compreender e investigar a capacidade de geração de resultado (lucros) das empresas em relação aos diferentes fatores que o influenciam, como ativos, vendas e capital investido.

Para entender essa relação, vale lembrar que uma empresa é constituída por um conjunto de ativos, fruto das suas decisões de investimento, que geram receitas e, consequentemente, lucro. São os lucros que irão remunerar as diferentes fontes de financiamento de ativos, os credores e os acionistas.

O desempenho econômico da empresa, portanto, é, em grande parte, resultado das suas decisões de investimento, e a análise objetiva avaliar a atratividade dessas decisões. Neste capítulo, vamos estudar as análises de lucratividade, rentabilidade, giro e valor econômico adicionado.

Objetivos do Capítulo

Ao final deste capítulo, será possível compreender:

  • as diferentes medidas de lucratividade de uma companhia e o seu significado;
  • as medidas de rentabilidade, sua interpretação e análise;
  • o conceito de giro dos ativos, investimento e patrimônio líquido;
  • a relação entre os índices de rentabilidade, o giro e as margens como complemento à análise;
  • o conceito de valor econômico adicionado e spread econômico;
  • a aplicação prática da análise de desempenho econômico.

Para melhor compreensão das questões que envolvem os objetivos apresentados, este capítulo está dividido em:


Unidade 1 – Índices de rentabilidade

Unidade 2 – Índices de lucratividade e giro

Unidade 3 – Valor Econômico Adicionado – EVA

Unidade 4 – Análise do desempenho econômico na prática

Unidade 1

ÍNDICES DE RENTABILIDADE

O estudo da rentabilidade busca investigar o desempenho econômico da empresa, analisando a relação entre a geração de lucro e os ativos e as diferentes fontes de financiamento utilizadas pela companhia e que contribuíram para o seu alcance. O objetivo do estudo da rentabilidade, portanto, é calcular e analisar a taxa de retorno sobre ativos, capital próprio e capital investido.

Figura 1 – Conjunto de ativos

Fonte: Elaborada pelo autor.

Retorno sobre o investimento – ROI

O retorno sobre o investimento, também conhecido pela sigla em inglês ROI (Return on Investment), avalia a taxa de retorno do lucro em relação ao capital total que a financia. Pode ser calculado da seguinte maneira:

Retorno sobre o patrimônio líquido

O retorno sobre patrimônio líquido, conhecido pela sigla em inglês ROE (Return on Equity), é a medida de rentabilidade do capital próprio utilizado pela empresa. Ele objetiva calcular a capacidade de a companhia rentabilizar seus acionistas (sócios) a partir da geração de lucro. É calculado da seguinte maneira:

Análise comparativa ROE X ROI

Se uma empresa for financiada única e exclusivamente com capital próprio, de forma que o capital total seja igual ao patrimônio líquido, há que se esperar que o lucro operacional seja igual ao lucro líquido, portanto, que o ROE seja igual ao ROI.

Se ROE > ROI, o uso de capital de terceiros na estrutura da empresa está agregando valor para os acionistas, já que a companhia passou a entregar uma rentabilidade (ROE) superior à da companhia desalavancada (ROI).

De forma oposta, se ROE < ROI, o uso de capital de terceiros na estrutura da empresa passou a destruir valor para os acionistas, uma vez que a companhia passou a entregar uma rentabilidade (ROE) inferior.

Retorno sobre os ativos – ROA

Outra medida de rentabilidade utilizada é o retorno sobre os ativos da empresa, ou ROA (Return on Assets) , do termo em inglês. O ROA mede a taxa de retorno em relação aos ativos totais. É calculado da seguinte maneira:

Unidade 2

ÍNDICES DE LUCRATIVIDADE E GIRO

Índices de lucratividade

O estudo da lucratividade das empresas tem o objetivo de avaliar sua capacidade de geração de lucros a partir do volume de vendas. As principais medidas utilizadas são: margem bruta, margem EBIT, margem EBITDA e margem líquida.

Margem bruta

A margem bruta avalia a relação entre o lucro bruto e as vendas. Representa, portanto, a capacidade de geração de lucro da empresa, a partir das vendas, após deduzidos todos os custos, sejam eles Custos das Mercadorias Vendidas (CMV), Custos dos Produtos Vendidos (CPV) ou Custos dos Serviços Prestados (CSP).

Margem operacional (margem LAJIR ou EBIT)

A margem operacional avalia a relação entre o lucro operacional da empresa e as vendas. Portanto, representa o resultado, medido em termos percentuais, sobre as vendas após deduzidos todos os custos e todas as despesas operacionais, como despesas com vendas, administrativas e gerais.

Margem líquida

A margem líquida avalia a relação entre o lucro operacional e as vendas líquidas. Representa, afinal, o que restou das vendas, após deduzidos custos, despesas operacionais, resultado financeiro e impostos.

Margem EBITDA/LAJIDA

Outra medida de lucratividade amplamente utilizada pelo mercado é a margem EBITDA, que representa a relação entre o resultado operacional da empresa, antes de depreciação e amortização, e as vendas líquidas. O EBITDA, embora não faça parte da DRE, pode ser facilmente calculado a partir do EBIT, somando-se as despesas de depreciação e amortização do período.

Giro do ativo

O giro do ativo, como o nome sugere, indica o número de vezes que o ativo total da empresa gira, dentro do exercício considerado, em razão do volume total de receitas. É calculado pela fórmula:

Giro do PL

De forma similar, o giro do patrimônio líquido indica a capacidade de a empresa gerar receitas para cada unidade monetária investida pelos sócios ou acionistas.

Giro do investimento

O mesmo raciocínio pode ser aplicado ao capital total investido na empresa, ou investimento. O giro do investimento indica a capacidade de a empresa gerar vendas para cada unidade monetária investida pelo capital total (dívida e patrimônio líquido).

Análise de margens X giro

A análise do giro permite explorar melhor o desempenho econômico das empresas, por meio da decomposição dos índices de rentabilidade e sua relação com a margem e o giro.

Unidade 3

VALOR ECONÔMICO
ADICIONADO – EVA

Nas unidades 1 e 2, o desempenho econômico foi apresentado sob a perspectiva interna, com o objetivo de se compreender a capacidade de a empresa gerar resultados a partir de suas operações (lucratividade) e do capital investido (rentabilidade).

Na prática, os acionistas, ao aportarem seus recursos na empresa, têm uma expectativa de retorno, conhecida como taxa mínima de atratividade ou retorno esperado, que considera a percepção de risco em relação à companhia. Essa taxa mínima de atratividade, quando observada pela ótica da empresa, é chamada de custo de capital próprio.

Valor econômico adicionado – EVA

O valor econômico adicionado, do inglês, Economic Value Added (EVA), pode ser definido como o excesso de retorno que a empresa consegue gerar para o acionista. Nesse sentido, representa uma espécie de lucro ou resultado econômico da empresa, ou lucro residual, aquele que resta depois de deduzidos todos os custos e todas as despesas, incluindo o custo de capital.

O EVA pela ótica da empresa

O EVA analisado pela perspectiva operacional da empresa considera o lucro econômico gerado pelas suas atividades principais, independentemente da sua estrutura de capital e de quem quer que esteja financiando a empresa.

Por esse lado, pode ser calculado pela diferença entre o lucro operacional após os impostos (NOPAT) e o seu custo de capital total (WACC).

Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2020).

O EVA na visão do acionista

O EVA analisado sob a ótica do acionista considera o lucro econômico gerado pelas atividades principais e pelas atividades de financiamento da companhia, considerando, portanto, sua estrutura de capital. Pode ser calculado pela diferença entre o lucro líquido e o custo de capital próprio (Ke).

Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2020).

Spread econômico

A análise do EVA pode ser realizada a partir das métricas de rentabilidade das empresas, especialmente o ROI e o ROE.


Da mesma forma, na visão do acionista:


Por essa análise do EVA, a partir da rentabilidade da empresa, fica fácil perceber que a empresa irá gerar valor econômico, a partir de suas operações, sempre que o ROI > WACC, ou, de outra forma, irá adicionar valor ao acionista sempre que o ROE > Ke.

Essa diferença entre os índices de rentabilidade da empresa (ROI ou ROE) e o custo de capital (WACC ou Ke) é conhecida como spread econômico.

Unidade 4

ANÁLISE DO DESEMPENHO
ECONÔMICO NA PRÁTICA

Como exemplo prático da análise do desempenho econômico, serão utilizados os dados econômicos e financeiros da companhia Magazine Luiza, nos anos de 2018, 2019 e 2020, conforme os demonstrativos financeiros apresentados no Capítulo 1.

Observação: as análises aqui apresentadas têm o objetivo exclusivamente educacional e são colocadas com o único propósito de exemplificar e praticar os conceitos estudados na disciplina, portanto não representam qualquer opinião profissional ou recomendação em relação à empresa.

Assim como no capítulo anterior, os índices serão apresentados em uma perspectiva interna. Na prática, os analistas devem estudar o setor de atuação e o negócio da empresa e também podem fazer comparações com empresas do mesmo segmento de atuação.

Análise de rentabilidade

A tabela a seguir apresenta a análise dos índices de rentabilidade do Magazine Luiza.

MAGAZINE LUIZA – Rentabilidade (milhares de reais)
2019 2020
Capital Total (médio) R$ 7.668.669,50 R$ 12.348.346,00
EBIT*(1-T) R$ 850.451,58 R$ 544.220,16
ROI 11,09% 4,41%
 
PL (médio) R$ 4.933.904,50 R$ 7.445.112,00
Lucro Líquido R$ 921.828,00 R$ 391.709,00
ROE 18,68% 5,26%
 
Ativo Total (médio) R$ 14.293.907,00 R$ 22.219.138,00
ROA 6,45% 1,76%
 
Giro Ativo 1,39 1,31
Giro PL 4,03 3,92
Giro do Investimento 2,59 2,36

Análise de lucratividade

A tabela a seguir apresenta os índices de lucratividade do Magazine Luiza em 2018, 2019 e 2020.

MAGAZINE LUIZA – DRE (milhares de reais)
Descrição 2018 2019 2020
Receita de vendas R$ 15.590.444,00 R$ 19.886.310,00 R$ 29.177.113,00
Resultado (lucro) Bruto R$ 4.537.422,00 R$ 5.553.961,00 R$ 7.519.962,00
Margem Bruta (%) 29,10% 27,93% 25,77%
LAIR (EBIT) R$ 1.081.551,00 R$ 1.288.563,00 R$ 824.576,00
Margem Operacional (EBIT) (%) 6,94% 6,48% 2,83%
Lucro Liquido R$ 597.429,00 R$ 921.828,00 R$ 391.709,00
Margem Líquida (%) 3,83% 4,64% 1,34%
Depreciação e Amortização R$ 163.690,00 R$ 486.975,00 R$ 702.523,00
EBITDA R$ 1.245.241,00 R$ 1.775.538,00 R$ 1.527.099,00
Margem EBITDA (%) 7,99% 8,93% 5,23%

Para chegar a conclusões mais precisas, pode-se fazer comparações, por exemplo, com os índices dos principais concorrentes ou com a média do setor. Deve-se procurar investigar, ainda, as principais razões dos movimentos nos índices.

RESUMO

Neste capítulo, foram apresentadas as principais medidas de desempenho econômico, que buscam compreender e investigar a capacidade de geração de resultado (lucros) da empresa em relação aos diferentes fatores que o influenciam, como ativos, vendas e capital investido. Foram estudados os índices de rentabilidade, lucratividade, giro e o valor econômico adicionado (EVA).

Foram apresentados os índices de rentabilidade ROI, ROE e ROA, que buscam investigar o desempenho econômico da empresa analisando a relação entre a geração de lucro operacional, ou líquido, e os ativos e as diferentes fontes de financiamento utilizadas pela companhia e que contribuíram para o seu alcance.

Quanto aos índices de lucratividade, o foco do estudo foram as margens bruta, operacional, EBITDA e líquida, que representam o quanto a empresa gerou de resultado, considerando as suas diferentes perspectivas, para cada unidade monetária de vendas.

O estudo da lucratividade foi complementado pela análise de giro, que está relacionada à capacidade de a empresa gerar vendas, considerando suas diferentes fontes de financiamento e o ativo total. O estudo da rentabilidade foi, então, complementado considerando o seu desmembramento entre margens e giros.

Foi apresentado, ainda, o conceito de valor econômico adicionado, ou EVA, do termo em inglês, que pode ser interpretado como o excesso de retorno que a empresa consegue gerar para o acionista. Representa uma espécie de lucro ou resultado econômico da empresa, ou lucro residual, aquele que resta depois de deduzidos todos os custos e despesas, incluindo o custo de capital.

Por fim, foram calculados os principais índices de rentabilidade, lucratividade e giro do Magazine Luiza nos anos de 2018, 2019 e 2020, como exemplo de aplicação prática da análise do desempenho econômico.